Olho por olho, dente por dente.

Esmeltaran era passado, todo o afeto, carinho e amor de Maria Flor e Timóteo era um relicário em seu coração. Sua mente estava focada apenas em Ubbe e naquele que um dia dizia ser o pai do garoto.

O coração da halfiling estava pesado, seu corpo cansado e seu prato não andava tão cheio assim. Docinho e ela seguiram pelas estradas em busca de pistas acerca do paradeiro dos dois, e após dois meses de viagem, a última pista conseguida em Suzail depois de dias na cidade, era que duas pessoas com a descrição que ela passara tinham embarcado em uma caravana a trabalho rumo a Pedra do Trovão. Até ali, a mulher não havia tido maiores problemas na estrada, já que sabiamente, buscava a companhia de caravanas e outros viajantes, suas preocupações eram sempre nas tavernas, uma mulher halfiling viajando sozinha, era um alvo fácil para tentativas de roubo ou atividades mais sórdidas. Alguns dentes ficaram no caminho, de forma a demonstrar que aquele pensamento além de antiquado, era danoso.

Há 9 dias ela avançava para a cidade resoluta a não perder tempo, o Festival de Inverno duraria três dias, ela se esforçaria ao máximo para aproveitar a chance de não perdê-los mais uma vez por tão pouco. Todavia no caminho, algumas pessoas a avisaram que não era uma sábia escolha ir sozinha para o Festival, os boatos de assaltos frequentes nas estradas tornava-se cada vez mais assustador, muitos caravanas evitavam aquela estrada, mas mesmo assim o festival não havia sido cancelado, e alguns mercadores não queriam perder a chance de lucro.

Segundo o mapa que estudava, devia estar perto da cidade àquela altura, mas em tão alta hora da madrugada ela pensava se tinha sido uma sábia escolha seguir noite adentro. Ela seguia, apenas contando com a chance de encontrar seu filho, tal como a lua cheia que brilhava alta no céu, envolta em nuvens, um farol a guiava rumo a Ubbe e Olegário, seria ele, ódio ou amor?

“O medo por Ubbe aperta meu coração, mas não tenho tempo para fraquejar, cada momento é precioso. Descanso o mínimo possível para não sobrecarregar Docinho e para estar bem caso precise nos defender. A floresta é escura, diferente de outras que conheci e os erros me ensinaram que cada uma delas é única na sua formação e seus moradores. Falta pouco para chegar na cidade e no Festival, sinto falta de meus companheiros de jornada, mas essa jornada é minha.”
Com os dentes trincados e os ouvidos e olhos abertos, Poppie segue seu caminho.

O mastim parecia realmente cansado aquela hora da madrugada e sobretudo assustado, os barulhos da mata ao redor o deixava em alerta, e para piorar a chuva começava a cair, não era uma tempestade, mas com certeza os deixariam bem molhados e com o frio que já fazia, aquilo não era uma boa notícia.

Algumas centenas de metros a frente, ela percebe um rastro de fumaça, provavelmente uma fogueira sendo alvo da chuva.

Poppie desmonta e segurando o cabresto se aproxima da orelha de seu cão, com um carinho diz:
- Vamos, Docinho, meu querido, calma, só mais um pouco, apesar de perigoso, vamos tentar nos aproximar daquela fumaça.
Ela cantarola suavemente:
- Andar com fé eu vou, que a fé não costuma falhar... - em seguida faz uma oração a senhora da lua, para que vença as nuvens e volte a mostrar sua face e iluminar o caminho.

Poppie vai avançando por entre a margem da floresta, e após alguns minutos chega a um acampamento recém desmontado, a fogueira ainda estava quente apesar da chuva que caía, e um aperto no coração faz com que ele pare de cantar.

Quem afinal estava ali? As notícias de ataque a cidade eram reais? É fácil perceber que as pessoas saíram as pressas e em direção ao que Poppie achar ser a cidade, mas não pelo caminho principal.

Poppie deixa Docinho tentar farejar algo perto da fogueira, mas a chuva já lavara tudo. Resolve seguir seu caminho em direção a cidade, para o bem ou o mal chegara tarde, o jeito era continuar a andar.

Sem dificuldades, apesar de tudo ela percebe que um grupo havia seguido em frente, e após alguns minutos ela percebe uns 30 metros a frente, 6 pessoas armadas e preparadas para combate.

Na chuva ela ainda consegue perceber que uma figura mirrada começa a movimentar as mãos, Poppie sabe o que aquilo significa: Magia!

Como que alertada por aquilo, o olhar dela se expande e ela observa além do grupo que estava saindo da floresta. Cinquenta metros a frente deles um rio de largura mediana, naquela altura, se postava, como divisor natural entre a floresta e a cidade. E em uma ponte improvisada, dois elementos envoltos em uma iluminação púrpura estavam alertas mas de costas para o grupo e bem mais longe, um terceiro elemento parecia envolto por outros vultos.

No que Poppie se metia?

Quando a pergunta ainda se formava em sua mente, um grande relâmpago soou nos céus e iluminou a noite.

O grupo claramente se revelava, e da posição que estava, um pouco na diagonal em relação ao grupo a sua frente, era possível divisar duas figuras grandes e musculosas, um hobgoblin vestido de maneira marcial, e um grande meio-orc, os demais eram bem menores que seus companheiros, e ao que tudo indicava eram goblins!

Goblins e hobgoblins a essa hora perto da cidade, boa coisa não era, pensa com seus botões.
Ela puxa o escudo das costas e o coloca no braço, pega sua maça e preparada para briga se aproxima da maneira mais discreta possível.

"-Ah! Yondalla, tem mais criaturas por lá, todos terão más intenções? Afinal nem todo meio-orc é mau..." - parando quieta por um momento, Poppie se concentra e pede:
-Provedora, peço-lhe a benção de perceber os que desejam o mal, para que possa agir em seu nome sem prejudicar os inocentes.
(Sentido Divino, descrito na folha 110 LdJ)

Na chuva, e assustada com a revelação de mais uma figura aparecendo na cena, Poppie se descuida, revelando-se ao grupo goblin a sua frente.

Dois pequenos mas musculosos goblins gritam no seu idioma natal alguma coisa, com as espadas curtas empunhadas e um tom de voz imperioso, as coisas parecem estarem ficando complicadas para a pequena Halfilling. Docinho não aceita aquela provocação e começa a rosnar, com os pêlos eriçados.